The little writer.

segunda-feira, 13 de julho de 2009



Era um fim de semana chuvoso, e a única coisa interessante que eu poderia fazer em um dia chuvoso, na casa da minha avó, era desvendar os mistérios do sótão. Lembro-me que subi os degraus da escada sorrateiramente, pois se ela soubesse que eu estava indo ao sótão, novamente, me deixaria de castigo. Mas, eu era criança, não podia me conter, além do mais, tudo que é proibido é mais gostoso, eu já ouvia dizerem.
Eu me perdia em todo aquele universo mágico de poeira e coisas antigas, mas, neste dia, uma em especial me chamou à atenção. Um objeto retangular, preto e com uns botões estranhos e empoeirados, como todas as coisas naquele local. Meus olhos de criança faiscaram diante daquela descoberta; uma máquina de escrever. Fui à passos lentos até a máquina, temendo que não fosse o que eu imaginava ou que houvesse alguma espécie de bicho por ali, mas eu estava enganada, quanto as duas coisas. Sim, era uma máquina de escrever, extremamente antiga e empoeirada, mas era. Sentei-me em frente à máquina e me pus a limpar a poeira que a encobria. Como resultado, minhas roupas ficaram cobertas de poeira, mas a preciosa máquina estava reluzente. Escondida e dominada pelo medo, fui até o andar de baixo procurar folhas, queria testar minha nova descoberta o mais rápido possível. Quando as encontrei, voltei ansiosa para meu novo passatempo. Fiquei lá, folha após folha, uma tarde inteira, escrevendo histórias de princesas, dragões, cavaleiros e castelos.
Sempre que havia uma oportunidade, eu ia ao sótão ver se ela ainda estava lá, inteira, intacta. E, a cada vez que a certeza de que estava vinha, uma alegria inexplicável surgia em mim, me dominava. Se eu possuísse força, tenho certeza de que dançaria com a máquina, mas eu não tinha, então, contentava-me em somente observá-la. Mas os dias foram passando, e as férias chegando ao fim, e eu, com muito pesar, iria precisar abandonar meu mais novo e precioso vício: escrever. Acabei criando coragem e pedindo a máquina à minha avó, ela não negou. Preferia que ficasse comigo à continuar sem uso no sótão.
Esta é minha mais preciosa lembrança, a qual eu sempre lembrarei com imensa ternura. Lembrança de uma época em que uma nova paixão, e um novo vício, surgiram. A lembrança que eu carregarei para sempre comigo, e a qual estará sempre viva em minha mente, juntamente com a máquina de escrever, que habita meu quarto até hoje.

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